Espelhos de uma nação
Bastou a arquibancada do Arruda ser ocupada para que o primeiro torcedor fosse transformado em símbolo pelas multidões que acompanhavam o time. Geraldo Lima da Silva personalizava como poucos a raça e a identidade do clube. Negro, alto, forte, boêmio e valente, muito valente. Pela cor da pele e agilidade com que enfrentava sozinho meia dúzia de oponentes, ganhou o apelido de Pantera. Nos primeiros anos do Arruda, eram os gols dos timaços dos anos 70 e seus gritos que inflamavam a multidão. Depois dele, Jairo Mariano sonhou ser mais do que um torcedor. Ele imaginou, um dia, em ser a própria bandeira do Santa Cruz. Então, se transformou em Bacalhau e passou a viver da e para sua paixão com seus cabelos e dentes tricolores numa casa onde até os abacates são pintados com as três cores quando nascem.
Gritar gol ou reclamar do juiz não bastava para Pedro Luna: ele vestiu de uma vez por toda o manto de Jesus Tricolor, personagem que vivia nas Paixões de Cristo de bairro, para pregar a paz entre as torcidas organizadas. O que Marcelo Xavier de Araújo pretende é apenas brincar e fazer rir, tanto que se define como um humorista quando veste o uniforme de Super Santa. Seu amigo Chico da Cobra se dá ao trabalho de carregar uma enorme cobra coral de papel machê só para divertir as crianças tricolores. Mazinho da Buzina, como o nome já diz, quer ser mais chato do que todos eles juntos. Já Valdemagno Torres encontrou um jeito de conciliar duas paixões: criou o Elvis Tricolor para acompanhar o time e não perder o rebolado de rei do rock.